Editada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a revista Pesquisa FAPESP publica pesquisa que aponta a queda de meteorito no Mato Grosso há 250 milhões como causador da maior extinção de espécies conhecida. Os efeitos do impacto teria exterminado 96% das espécies da Terra. Leia o artigo completo com foto clicando em "leia mais".
Segundo a matéria de Marcos Pivetta, publicada na Edição 211 - Setembro de 2013, o meteorito de cerca de 4km de diâmetro, bem menor que o objeto de 10km que extinguiu os dinossauros, exterminou 96% das espécies da Terra. Um estudo recém-publicado por pesquisadores da Austrália, Reino Unido e Brasil na revista científica Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, aponta que a maior extinção conhecida, que sinaliza o término do período Permiano, pode ter sido desencadeada pelos efeitos indiretos decorrentes da abertura de uma cratera de 40 quilômetros de diâmetro no território hoje dividido pelas cidades de Araguainha e Ponte Branca, no sudeste do Mato Grosso, perto da divisa com Goiás.
As grandes extinções
Nos últimos 500 milhões de anos aconteceram cinco grandes extinções em massa na Terra. A mais recente e também mais famosa ocorreu cerca de 65 milhões de anos atrás, matou 75% de todas as espécies, inclusive os dinossauros. As causas prováveis foram os impactos climáticos causados pela queda de um meteorito que abriu uma cratera de 180 quilômetros perto da costa do que hoje é o México. Essa mortandade em larga escala marcou o fim do período Cretáceo. Mas esse não foi o episódio mais traumático para a biodiversidade do planeta.
A destruição desencadeada no Brasil
A pesquisa, de acordo com matéria publicada na revista FAPESP, informa que há pouco mais de 250 milhões de anos, quando ainda não havia dinossauros ou mamíferos e todos os continentes atuais estavam unidos no antigo supercontinente Pangeia, 96% das espécies da Terra sucumbiram em razão de um ou vários eventos trágicos e misteriosos. O estudo recém-publicado por pesquisadores da Austrália, Reino Unido e Brasil na revista científica Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, informa que a maior extinção conhecida, finalizando o período Permiano, pode ter sido iniciada pelos efeitos indiretos decorrentes pela queda do meteorito em território brasileiro, no sudeste do Mato Grosso.
Com a colisão do meteorito de aproximadamente 4 quilômetros de diâmetro criou-se uma enorme cicatriz no relevo do Brasil Central. Conhecida como domo ou cratera de Araguainha, ela não oferecia potencial suficiente para acabar com a vida numa escala global: “A queda do meteorito em Araguainha não tinha capacidade para provocar uma extinção global em massa”, afirma o geólogo Eric Tohver, da University of Western Australia, primeiro autor do trabalho, no qual colabora com uma equipe da Universidade de São Paulo (USP). “Mas seus efeitos indiretos sim.”
Uma sucessão de eventos ocorridos após o impacto pode ter provocado em questão de dias um rápido e fatal aquecimento global. Destaca-se que podem ter ocorridos tsunamis e, com a análise de outras evidências geológicas, conclue-se que podem ter acontecido muitos terremotos com magnitude de até 9,9 graus na escala Richter num raio de mil quilômetros em torno da cratera. Os intensos tremores de terra teriam fraturado as rochas ricas em carbono orgânico da Formação Irati, da qual faz parte a região de Araguainha, e liberado uma quantidade descomunal de um gás de efeito estufa, o metano.
Segundo a matéria, “de acordo com os cálculos dos pesquisadores, em questão de dias podem ter sido liberadas na atmosfera 1.600 gigatoneladas de metano, quase cinco vezes mais do que o despejado no planeta desde o início da Revolução Industrial, há 250 anos”.
“Em geral, a grande extinção do fim do Permiano costuma ser atribuída a alterações decorrentes de vulcanismos e da liberação de lava”, diz o geólogo Ricardo Trindade, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, outro autor do estudo, parcialmente financiado pela FAPESP. “Mas nossa hipótese indica que a cratera de Araguainha pode ter tido um papel importante, ainda que indireto, nesse processo.”
Fonte: Revista FAPESP, edição 211, setembro/2013 - Marcos Pivetta http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/09/12/a-estufa-de-ara